Fui fechar a janela, a chuva me atraiu. Há tempos não cheirava suas densas gotas, tampouco as provava. E fiquei intacta, hipnotizou-me seu cheiro. O magnetismo da chuva que evade pela madrugada há quase nada se compara. Eu tentava, não conseguia, era o céu que chorava por mim. E lavava a sarjeta onde o imundo estaria. Ali, à margem, alimentando-se dos restos. Parasitando a sociedade, camuflando-se ao lixo. Perfeito mimetismo! Mas talvez, da tempestade, o que mais me fizesse falta fosse o vento. Ah, o vento! Ele uiva, grita aquilo que meu interior tão racional não externaria. O vento que puxa, faz plainar num simples abrir dos braços. E então vem o gosto, estendo a mão, recolho uma amostra dos céus, delicia-me a sede de justiça. Embebedo-me. Fecho a janela. A sarjeta parece mais limpa; o asfalto, ainda mais negro; a rua, suscetível a deslizes dos passantes. Ergo-me. Vai passar. Minh'alma revigora-se.
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
Carta aos mensaleiros
Independência que salta aos olhos.
Em tons lusos, em tons verde-amarelos,
Em explosão de cores.
Salve Orleans, Salve Bragança,
Salves e odes à corte e à sua pompa.
Salve-se quem puder!
Ouviram do Paranoá as margens plácidas
De um povo heroico o brado reivindicante.
Ninaram eternamente em berço esplêndido
Os corruptos, salafrários, os repugnantes.
Mensaleiros de um país continental
Proliferando miséria, perda total,
Pelos 26 estados da terra,
Reunindo a corja no Distrito Federal.
Dos filhos deste solo sejais mãe gentil,
Pátria amada, Brasil!
Em tons lusos, em tons verde-amarelos,
Em explosão de cores.
Salve Orleans, Salve Bragança,
Salves e odes à corte e à sua pompa.
Salve-se quem puder!
Ouviram do Paranoá as margens plácidas
De um povo heroico o brado reivindicante.
Ninaram eternamente em berço esplêndido
Os corruptos, salafrários, os repugnantes.
Mensaleiros de um país continental
Proliferando miséria, perda total,
Pelos 26 estados da terra,
Reunindo a corja no Distrito Federal.
Dos filhos deste solo sejais mãe gentil,
Pátria amada, Brasil!
Eco
Hoje meu grito não ecoa.
Não ecoa, e me sinto livre, até.
Hoje meu grito não ecoa.
Não ecoa, e me faz ser quem sou, não o que querem que eu seja.
Hoje meu grito não ecoa.
Não ecoa, e ouço o que quero, visto o que me convém, às aparências,
Dispenso meu desdém.
Hoje meu grito não ecoa.
Não ecoa, e sou tudo, menos alienação.
Hoje meu grito não ecoa.
Não ecoa, e, por incrível que pareça, nunca tive tanta voz.
Que a singularidade seja mantida em tempos de reprodução.
Não ecoa, e me sinto livre, até.
Hoje meu grito não ecoa.
Não ecoa, e me faz ser quem sou, não o que querem que eu seja.
Hoje meu grito não ecoa.
Não ecoa, e ouço o que quero, visto o que me convém, às aparências,
Dispenso meu desdém.
Hoje meu grito não ecoa.
Não ecoa, e sou tudo, menos alienação.
Hoje meu grito não ecoa.
Não ecoa, e, por incrível que pareça, nunca tive tanta voz.
Que a singularidade seja mantida em tempos de reprodução.
Lobisomem
O homem é o lobo do próprio homem.
A lua cheia assim o tornou.
Bom quando homem, mau quando lobo. Será?
Instaurou-se o temor.
Pobre chapeuzinho, pobres porquinhos!
Encontraram o bicho uivante pelo caminho.
Pobre mesmo é de mim, ter de conviver com a selvageria humana
Que, pensante, se traduz em holocausto e extinção.
Mundo, mundo, vasto mundo, se nos chamassem lobos,
Seria a glória, não a destruição.
Mundo, mundo, vasto mundo, a lua cheia é redenção.
A lua cheia assim o tornou.
Bom quando homem, mau quando lobo. Será?
Instaurou-se o temor.
Pobre chapeuzinho, pobres porquinhos!
Encontraram o bicho uivante pelo caminho.
Pobre mesmo é de mim, ter de conviver com a selvageria humana
Que, pensante, se traduz em holocausto e extinção.
Mundo, mundo, vasto mundo, se nos chamassem lobos,
Seria a glória, não a destruição.
Mundo, mundo, vasto mundo, a lua cheia é redenção.
Lápide
João Andarilho andou.
Sem curso, sem pés,
Sem moral, sem nada.
João Andarilho nadou
[E morreu na praia
Sem trabalho, sem dignidade,
Sem família, sem nada.
João Andarilho matou
[E morreu sem os cem reais roubados.
E aqui jaz, mas já?
Sem curso, sem pés,
Sem moral, sem nada.
João Andarilho nadou
[E morreu na praia
Sem trabalho, sem dignidade,
Sem família, sem nada.
João Andarilho matou
[E morreu sem os cem reais roubados.
E aqui jaz, mas já?
.
Clausura Barbie
Só me fizeram propaganda e propaganda engana.
Plastificaram meus anseios.
Maquiaram os permeios.
Disseram que ser feliz é ter dinheiro,
Estar bem no financeiro, pegar um cruzeiro
E tirar férias nas Bahamas.
Só me fizeram propaganda e propaganda engana.
Veicularam a falsa estética.
Rasgaram moral e ética.
Disseram que ser bonito é ter uns poucos quilos,
Não comer isto, vestir aquilo,
Atingir o tal padrão.
Embalaram, em bonecas, o câncer da geração.
Plastificaram meus anseios.
Maquiaram os permeios.
Disseram que ser feliz é ter dinheiro,
Estar bem no financeiro, pegar um cruzeiro
E tirar férias nas Bahamas.
Só me fizeram propaganda e propaganda engana.
Veicularam a falsa estética.
Rasgaram moral e ética.
Disseram que ser bonito é ter uns poucos quilos,
Não comer isto, vestir aquilo,
Atingir o tal padrão.
Embalaram, em bonecas, o câncer da geração.
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
Entre o preço e o apreço
Meio desmantelado, deu uns passos infalsos.
Ensaiou falar por si, mas lhe compraram os pensamentos.
Esboçou autonomia, com todo seu alento.
Riram-se todos.
Opôs-se ao autoritarismo, mas lhe compraram o voto.
Prometeram pôr as contas do município em dia, mas abusaram de notas frias.
Quando deu por si, repetia, fervorosamente, hinos políticos.
E, mecanicamente, depositava na urna resignação.
Qual não foi o seu intento!
Zé povinho bem sabia o que queria, era educação, saúde, lazer.
Mas uma dentadura lhe satisfazia por hora...
Riram-se todos? Pois que ria também!
Sorrir durante mais quatro anos de sofrimento era o que, então, lhe restava.
Próxima eleição, ganharia tijolos.
Assinar:
Postagens (Atom)