quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Tempestade

Fui fechar a janela, a chuva me atraiu. Há tempos não cheirava suas densas gotas, tampouco as provava. E fiquei intacta, hipnotizou-me seu cheiro. O magnetismo da chuva que evade pela madrugada há quase nada se compara. Eu tentava, não conseguia, era o céu que chorava por mim. E lavava a sarjeta onde o imundo estaria. Ali, à margem, alimentando-se dos restos. Parasitando a sociedade, camuflando-se ao lixo. Perfeito mimetismo! Mas talvez, da tempestade, o que mais me fizesse falta fosse o vento. Ah, o vento! Ele uiva, grita aquilo que meu interior tão racional não externaria. O vento que puxa, faz plainar num simples abrir dos braços. E então vem o gosto, estendo a mão, recolho uma amostra dos céus, delicia-me a sede de justiça. Embebedo-me. Fecho a janela. A sarjeta parece mais limpa; o asfalto, ainda mais negro; a rua, suscetível a deslizes dos passantes. Ergo-me. Vai passar. Minh'alma revigora-se.